Ensaio de uma confissão
Queria contar-te que tenho medo, afinal...que apesar dos sorrisos ligeiros que vês delineados todos os dias durante o café preenchido de banalidades que partilhamos, receio que um destes dias, na superfície da mesa onde o teu cotovelo pousa distraidamente enquanto assumes um ar pensativo, o vazio se instale e de ti só permaneça o espaço que deixaste desocupado e sem som... procuro na tua expressão algum indício de cansaço nesse espaço que ocupas, sinto em mim a certeza de que te ganhei mais um dia, de que vivi o dia de hoje porque estavas lá, porque acordaste-o comigo, porque a tua voz invadiu a minha madrugada e eu ouvi-te, sonolenta e entontecida pela tua energia. Recrio-te todos os dias, reinvento-te na minha vida como uma pintura à qual vou acrescentando ou mudando algum tom...Queria contar-te tudo isto, meu amor, mas tenho medo de que na verdade não exista em ti e que tudo não seja mais do que uma tela vazia.