In solitude we cry
Num tratado de solidão, não existe espaço para duas pessoas que se deitam juntas em posição semi-fetal, acolhidas uma na curva da outra, atentas à respiração e ao pulsar mútuo. Neste manifesto contra a solidão, há um lençol que se partilha e que cobre dois corpos ocupados de amor e de sorrisos de cumplicidade. Para demonstrar que não há solidão neste leito nem para além dele, alguém se vira para o outro e, de olhos abertos e puros, ambos procuram uma verdade única e exclusiva que partilham: que o amor existe, que eles existem porque o amor existe, e que no fim de cada dia se encontram repletos da vida que depositaram um no outro, a qual sabem ser sempre um espaço comum de afectos impronunciáveis e de silêncios plenos de mensagens secretas apontadas num livro feito de luz no coração de cada um. Numa moção de censura contra a solidão estão duas pessoas sentadas num café ao fim de uma tarde em que o sol morno aquece os rostos leves e doura os sorrisos húmidos e abertos aos olhares e gestos que alimentam a linguagem universal de mundos secretos comuns. E nesta mesa de café, duas mãos estão fingidamente pousadas ao acaso, tamborilando distraidamente à procura que outros dedos ofereçam um laço de ternura. A solidão não tem sentido quando, algures num mundo que nos espera à porta de nós, existem sorrisos que se desenham ao aspirar o cheiro das gotículas em que se desfazem as ondas ao rebentar num longo areal sedento de sal e de azul.
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