Tinham combinado encontrar-se todas as semanas, religiosamente à mesma hora, naquela mesa de café. Ele sentar-se-ia primeiro, com olhar vago e vacilante à sua volta, pediria um café, sempre cheio, e ficava a olhar disfarçadamente pela janela que se abria a uma rua salpicada de árvores muito bem cortadas e com troncos cuidadosamente podados. Com o seu casaco castanho coçado nos cotovelos que repousavam em cima da mesa, o seu queixo erguia-se de cada vez que a porta do café se abria, uma expressão de ansiedade se ensaiava e depressa se desvanecia em olhar de espera paciente. Quando ela entrava, um leve e tímido sorriso se desenhava naquele rosto pálido. Ela, com passo incerto e trémulo, seguia o seu intinerário por entre as mesas e cadeiras daquele café pontilhado de sol, e hesitante sentava-se naquela cadeira em frente a ele, cruzava os seus pés de forma tensa e fechada por debaixo da mesa, refugiando as suas mãos entre os joelhos indecisos. Lentamente, os seus olhos erguiam-se à procura da cumplicidade de outros dois que aflitivamente a procuravam, e nesse momento, que escapava aos distraídos daquele café, uma metamorfose acontecia, sempre sob a luz e sempre sob as árvores. Os dedos timidamente procuravam a palma da mão do outro, como se nessa palma estivesse o centro do mundo, sem princípio nem fim, e sussurros inaudíveis polvilhavam o silêncio morno daquele café. A doçura iluminava-se de azul no meio daquela mesa, e os dois amantes repartiam segredos e delícias, o desejo latejando nas pontas dos dedos que se roçavam, trémulos e ansiosos do líquido que adivinham correr sob a epiderme cálida...
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