Friday, December 17, 2004

A luz do futuro

Estou de costas viradas para o futuro. De pé, braços estendidos como se preparassem o vôo, fecho os olhos e quase que o sinto a vir na minha direcção a passos apressados, quase a correr, trazido pela brisa que atravessa os vazios que se perdem à minha volta. Quero imaginá-lo ansioso, animado, a sacudir as gotas de água que brilham e se agitam. Hesitante, viro-me de frente para o futuro, e no entanto, receio abrir os olhos....tenho medo que entre ele e eu haja um abismo em que algum de nós pode cair e se afundar, e que afinal ele não passe de um fantasma negro que me engole os sonhos e a luz que se reflecte nos meus olhos a cada brilho solar que me aquece a existência. Futuro, vem devagar e serenamente ter comigo, quero sorver-te e ocupar os meus poros com a tua força e maturidade renovada. Quero ocupar-te, futuro, para me sentir futuro...

Wednesday, December 15, 2004

Dos olhos

Numa das minhas viagens diárias que faço em direcção ao trabalho, reparei numa casa de pedra num alto de uma colina, virada ao sol que timidamente brilhava. Era uma casa bonita, corajosa e resistente, mas havia ali algo que a tornava ainda mais diferente de todas as outras. As janelas não existiam, só os buracos através dos quais se viam as sombras do vazio dentro da casa, e a ideia que se apoderou de mim desde então foi: esta casa não tem olhos, estão ocos os olhos, como uma caveira e de onde tudo o que se vê é o vazio, o vago. Assutador...porque nessa altura senti a casa como um ser vivo! E porque nessa altura perguntei-me...e o que se veria para lá dos meus olhos se os não tivesse?

Wednesday, December 08, 2004

O Silêncio

Procuro, no silêncio que me envolve, mergulhar numa descoberta única, intransmissível e sem limites do que sou, do espaço que ocupo. Há uma música neste silêncio, a música que vibra e que procura o seu sentido, aquela que em horas de sonho se manifesta em voz sonante, que voa pelos infinitos mundos, aquela que no fundo do mar ouvimos dentro de nós, nesse fundo do mar que acreditamos ser só nosso, porque só nos ouvimos a nós, aquela que nos embalava e envolvia na placenta do ventre materno, enquanto éramos um esboço de nós e projecto de alguém. É no silêncio que o grito se torna mais claro, que tudo se torna mais nítido, que nos alongamos na essência que procura o sentido da vida. É no silêncio que dois amantes descansam dos seus corpos(...)

Sunday, December 05, 2004

Apenas mais uma molécula de existência

É isso mesmo...no infinito que nos circunda, na imensidão que nos cerca e aperta, sou mais uma molécula de existência. Reclamo o meu oxigénio na respiração, procuro a pedra quente onde me encostar, investigo com o olhar as coisas que se movem, as que no silêncio existem.
O meu lugar no mundo é tão limitado, afinal de contas! E no entanto, de quem estou eu a roubar um lugar? Quem poderia na minha vez existir e criar, habitar um ser mais produtivo e alastrar a sua magia pelo mundo? É que precisamos de alguém mágico, precisamos de rever a nossa existência em sonhos, planos, projectos e edificações.