Caixa de Imagens
Num mundo onde só eu e o sonho coexistem, há lá uma caixinha que abro de vez em quando para me maravilhar com belezas repletas de magia. Ao abrir com um cuidado desmesurado a minha caixinha de imagens, algo do seu fundo vem emergindo e invade os meus olhos...e o que vislumbro à minha frente é um um imenso e almofadado campo de papoilas ondulantes, ao centro deste campo o meu olhar fixa-se nos corpos de dois amantes, que se encontram deitados, de mãos dadas e olhos fixos um no outro, como se tudo o resto não existisse, como o mundo de cada um deles estivesse ali, à sua frente, num olhar que engolia e levava alguém numa viagem de sorrisos, cumplicidades e silêncios dourados de empatias ancestrais. E eu, observando de forma ávida como quem vê uma película de um filme já visto por outros olhares, deslumbro-me à descoberta de pormenores que só eu terei o poder de partilhar, cansando o meu olhar de tal modo que os corpos me parecem respirar de forma ligeira e preguiçosa, quase sinto o movimento dos corpos nesta forma simples de se existir, a leve brisa que avança tímida sobre os cabelos espalhados...e neste quase voyeurismo a que me dedico sinto as papoilas transformarem-se em pequenas e trémulas pinceladas vermelhas que se movem em ondas macias e escondem parcialmente os contornos dos dois amantes perdidos de si e encontrados no outro...em algum momento, os amantes rodariam os seus corpos para um sol cúmplice e quente, e assim se prostrariam a receber as estrelas que mais tarde acabariam por pontilhar um céu imenso e claro. As papoilas, essas, recolheriam os dois amantes numa nuvem de orvalho e acalentariam o seu sono manso e reparador do amor pleno.
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