Estio de Estrelas
Neste inverno de frias noites despidas de nuvens, começo a sentir falta da noite de verão cálida e de silêncios intercalados com os sons das cigarras, que lembram alegrias e parecem ser a música com que as estrelas dançam para nós num céu aberto e escuro. A minha alma anseia por uma dessas noites, em que me deito num chão ainda morno do sol abrasador da tarde e fico assim, entregue a esse céu, ao universo que contemplo, ponto mínimo no infinito. E assim, deitada de costas e virada para as estrelas, tento iniciar uma linguagem que só eu e elas conhecem, e experimento o meu sorriso de cumplicidade, procurando nelas um outro lado de mim, como se fosse uma folha de figueira escondida na sombra da árvore com uma textura de vida e de seiva leitosa que subitamente se vê exposta a uma luz cega. Nesses dias em que me atrevo a ter nas estrelas as minhas confidentes de segredos,fantasias e medos, sinto-me um embrião estelar, discípula dos seus desígnios e amante da sua luz. E é nesses dias que algo me renova a alma e retomo rumos de descoberta em mim, criatura expectante e repleta de vazio à procura do mar de ser.
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