Wednesday, June 15, 2005

Tinham combinado encontrar-se todas as semanas, religiosamente à mesma hora, naquela mesa de café. Ele sentar-se-ia primeiro, com olhar vago e vacilante à sua volta, pediria um café, sempre cheio, e ficava a olhar disfarçadamente pela janela que se abria a uma rua salpicada de árvores muito bem cortadas e com troncos cuidadosamente podados. Com o seu casaco castanho coçado nos cotovelos que repousavam em cima da mesa, o seu queixo erguia-se de cada vez que a porta do café se abria, uma expressão de ansiedade se ensaiava e depressa se desvanecia em olhar de espera paciente. Quando ela entrava, um leve e tímido sorriso se desenhava naquele rosto pálido. Ela, com passo incerto e trémulo, seguia o seu intinerário por entre as mesas e cadeiras daquele café pontilhado de sol, e hesitante sentava-se naquela cadeira em frente a ele, cruzava os seus pés de forma tensa e fechada por debaixo da mesa, refugiando as suas mãos entre os joelhos indecisos. Lentamente, os seus olhos erguiam-se à procura da cumplicidade de outros dois que aflitivamente a procuravam, e nesse momento, que escapava aos distraídos daquele café, uma metamorfose acontecia, sempre sob a luz e sempre sob as árvores. Os dedos timidamente procuravam a palma da mão do outro, como se nessa palma estivesse o centro do mundo, sem princípio nem fim, e sussurros inaudíveis polvilhavam o silêncio morno daquele café. A doçura iluminava-se de azul no meio daquela mesa, e os dois amantes repartiam segredos e delícias, o desejo latejando nas pontas dos dedos que se roçavam, trémulos e ansiosos do líquido que adivinham correr sob a epiderme cálida...

De pele em pele

Há algo de extremamente sedutor na ideia de rastejar sobre o teu corpo, tal serpente preguiçosa debaixo de um sol cálido e indolente. Antecipar a sensação da minha pele a roçar pela tua num movimento de onda incerta e irregular é um fascínio a que me dou o direito de sonhar e delirar quando não estás por perto, a vigiar-me os olhos que de luz e de fogo se inflamam. Na languidez do toque que se arrasta como uma folha entregue aos caprichos do vento, assim os meus dedos vagueiam, sequiosos e ao acaso pela tua pele que respira o meu desejo em ascendente rota. Colo-me. A ti. Sem pudores nem reservas, fecho os olhos e torno-me alvo da tua feroz contenção de brasa vermelha sem cinza criada, ainda. E neste momento em que ardo e me ardes, em líquido me transformo, como se o meu sangue fosse lava transbordando de mim, sem controle e sulcando rastos de fogo incandescente. Quero afogar-me na água do teu desejo, efervescer-me em ti, e sem fôlego amornar os sentidos na planície do teu peito.