Sunday, February 13, 2005

Carta ao amor que não existe

Meu amor,
queria começar por te dizer coisas que nunca foram ditas, queria inaugurar-te em palavras, como se assim prolongasse o único e insubstituível que já és, mas depois pensei que era pretensão minha achar que teria o poder de te dizer algo que nunca ninguém, no universo como eu e tu conhecemos, terá algum dia dito ao seu amor numa noite de amor ou em cima de uma ponte sobre um rio murmurante e gélido. Assim, meu amor, consciente de que repito o que já ouviste, só te posso dizer que é dentro dos meus olhos que te vejo como te amo, dentro das minhas pálpebras, quando fecho os olhos contra o sol que teima em cegar-me mornamente. E por dentro dos meus olhos, meu amor, sinto-te dentro de mim, tão dentro que é como se nunca tivesses estado em outro lado, como se me pertencesses e eu não existisse sem ti por dentro dos meus olhos. E lá dentro tu és tudo o que amo e quero, és tão grande porque me sinto imensa contigo e és tão pequeno porque estás dentro dos meus olhos. E as minhas retinas seguem-te quando insisto em tentar perder-te dentro de mim, e brinco às escondidas com a tua existência dentro de mim, dos meus olhos. E tanto brinco nesse jogo do existir que reluto em abrir os olhos, e fecho-os com teimosia, convencida que aí, nos meus olhos, serás sempre tu quem vive comigo os sonhos mais inebriantes de que me sinto escrava.

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