Wednesday, February 02, 2005

Eyes Wide Shut

Penso:
ÁGUA!
E uma cascata de gotículas descem e atropelam-se pelo meu rosto, juntando-se em linhas redondas e indecisas na sua rota definida pela pressa de desaguarem num vale futuramente fecundo.
Penso:
LUZ!
E raios impiedosamente cintilantes e abrasadores atravessam-me os dedos das mãos, iluminando a minha carne e ensaiando-a na semi-transparência de um corpo habitado de peles que me cobrem como as camadas de um tronco de árvore.
Penso:
CÔR!
E rodo sobre mim mesma envolta num arco-íris como se este fosse um edredon fofo e quente que me protege da fria e cinza selva de um universo que não entendo e me arrepia a pele de um medo gélido e desconhecido.
Penso:
SILÊNCIO!
E encolho-me na direcção do meu ventre e nele encontrar a mudez da placenta da minha mãe, pouso os meus ouvidos algures num mundo que só existe em mim, onde há uma música mágica e contínua a embalar os meus olhos fechados de encanto infinito.
Penso:
AMOR!
E o vazio que ameaça enraizar-se nas minhas entranhas dispersa-se num sorriso de serenidade vindo do mundo dos sonhos que corajosamente persistem em sobreviver-me. E mais uma vez, timidamente, ergo o meu olhar ao horizonte de um sol que se despede de mim e me empresta a cor dourada com que recebo o anoitecer de mais um dia limpido.

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